Nestes primeiros dias do novo ano, começo oficialmente o desafio que me impus, o de criar alguns ensaios como base para um livro e também como direcionador para minhas palestras e workshops sobre o estado de flow e Consciência.
Este material será publicado aqui à medida que seja criado, portanto, sem uma regularidade definida e entremeado por meus outros artigos e videos que também alimentam meu podcast. Como curiosidade, todos os escritos iniciais vem de uma máquina de escrever, instrumento analógico que garante a redução de distrações, construção e manutenção de foco e a possibilidade bastante presente de ativar o estado de flow, tendo por consequência, um escrever mais intuitivo do que mentalizado. O trabalho de edição e revisão posterior é realizado de forma digital.

Fica o convite para explorarmos juntos o conceito de que a separação que imaginamos existir entre o “eu” e o mundo é como uma miragem, uma mera ilusão, um autoengano ao que somos devidamente condicionados desde que nascemos.
INTRODUÇÃO
A sensação de alívio era indescritível, mesclada a uma profunda perplexidade que preenche todo o ambiente. "Caramba, isso explica tudo", murmuro para o silêncio do pequeno escritório - na verdade, um closet adaptado para ser meu refúgio pessoal. Ou pelo menos explica uma grande parte do que eu procuro compreender desde o fim da minha infância.
E agora? A pergunta ecoa enquanto eu circulo inquieto ao redor da banqueta, sozinho com aquela revelação. Ninguém em casa. Ninguém para compartilhar. Mas quem realmente poderia compreender?
O que havia acontecido transcende palavras. Não havia sido exatamente uma visão, mas um vislumbre - um relance tão breve quanto eterno, algo que se gravou em minha consciência com uma clareza que desafia a própria natureza efêmera da memória.
Era como observar meu próprio reflexo em uma vitrine e, simultaneamente, ver através dela - mas o reflexo não era apenas uma imagem, era a própria natureza da Consciência se revelando a si mesma.
Rio baixinho ao perceber a simplicidade desnuda e pura daquela experiência. As instruções no meu fone de ouvido ecoavam:
"Abandone tudo antes de entrar. Sua história, seu nome, sua idade, seus conhecimentos, sua profissão, seus relacionamentos, sua paternidade, seus planos, seu futuro imaginado. Esvazie-se completamente. Deixe tudo para trás.
Entre.
O que resta? Quem observa? O que é percebido quando você adentra este espaço sem identificação, sem o peso de uma história ou de um personagem? O que ou quem percebe? O que resta quando sua mente não está tentando entender ou resolver alguma coisa?"
E então aconteceu: a perspectiva mudou radicalmente. Não mais limitada aos sentidos corporais, a Consciência se expandiu como se observasse tudo de um ponto impossível, simultaneamente dentro e fora, acima e em toda parte. O corpo físico dissolveu-se numa vastidão infinita, banhada por uma luz suave.
Não havia mais um observador separado - apenas uma Presença consciente que abraçava tudo em uma visão completa, total. A separação revelou-se ilusória: não havia mais um "eu" observando "algo", apenas a totalidade consciente de si mesma.
Me dei conta de uma verdade tão óbvia quanto profunda: não há fronteira entre o observador e o observado.
Nunca houve.
Obrigado por ler!
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Aguardo ansiosamente pela continuação da Fronteira Interior.