Flow: Além da Performance, a Porta para a Realidade
A Ilusão da Separação e o Equívoco do Flow como “Ferramenta”
Vivemos presos em uma ficção coletiva. O ruído incessante dos pensamentos nos mantém hipnotizados, imersos em narrativas sobre passado e futuro, enquanto ignoramos o único momento que existe: o agora.
O estado de flow, frequentemente vendido como um “hack” para produtividade ou um truque neuroquímico para otimizar desempenho, é muito mais do que isso. Ele é o estado natural da existência, o reflexo direto da Consciência sem ego, sem esforço, sem resistência. No entanto, o paradigma organizacional—ancorado no modelo obsoleto de comando e controle—tenta instrumentalizar o flow, tratando-o como uma ferramenta para maximizar eficiência e resultados, o mantra nocivo que fomos adestrados a entoar nas corporações.
É preciso ficar muito atento pois de uns tempos para cá, "pipocaram" várias matérias na imprensa e muita gente falando sobre flow, assunto que começa a ganhar tração, mas que infelizmente, vem sendo tratado de forma apressada e superficial.
Essa visão não apenas empobrece o conceito, mas reforça a ilusão mais perigosa: a crença de que estamos separados do todo, de que somos entidades isoladas tentando “atingir” um estado especial, resultados excepcionais.
Não percebemos que o que chamamos de flow é simplesmente a ausência de resistência à vida.
Flow e Não Dualidade: A Mesma Experiência, Nomes Diferentes
No coração das tradições não duais, há um reconhecimento essencial: não há um “eu” separado do fluxo da realidade. O que somos não é uma mente individual tentando “se conectar” com algo maior. Somos o próprio movimento da vida, já conectados, já fluindo.
O estado de flow é a manifestação espontânea dessa percepção. Quando o pensamento compulsivo cessa, o que emerge é pura Presença. Sem a interferência do ego, sem a necessidade de controle, o agir acontece de forma natural, sem fricção. Isso explica por que os momentos de flow são descritos como estados de unidade, onde a distinção entre observador e ação desaparece.
Mas então, por que precisamos “acessar” algo que já somos?
Porque fomos condicionados a acreditar que somos o ego. Que somos um “eu” individual, separado do mundo. Essa crença é reforçada por sistemas organizacionais que tratam os indivíduos como engrenagens substituíveis, impondo métricas e processos que sufocam a espontaneidade e a criatividade.
O Erro Fatal da Liderança Tradicional
A liderança baseada no comando e controle opera a partir do medo. Medo do caos, medo da perda de poder, medo do desconhecido. Esse modelo tenta “gerenciar” o fluxo da realidade como se fosse possível domá-lo. Mas o paradoxo é evidente: quanto mais tentamos controlar, mais resistência criamos. Quanto mais resistência, menos flow.
A alternativa? Uma liderança enraizada na Presença. Líderes que compreendem que seu papel não é impor ordem, mas remover bloqueios. Criar espaços onde a inteligência natural das pessoas e dos sistemas possa emergir. Onde o trabalho deixe de ser uma batalha contra o tempo e se torne um processo orgânico de expressão criativa.
O Chamado para uma Mudança Radical
Não temos mais tempo para continuar operando sob o modelo fragmentado de separação e controle. Precisamos reconhecer que o futuro do trabalho não será construído por quem busca dominar, mas por quem compreende que já estamos dentro de algo maior do que qualquer estratégia ou modelo de gestão possa conter.
O verdadeiro líder do futuro não será um mestre da eficiência. Será alguém que sabe desaparecer. Que sabe sair do caminho e permitir que a Presença trabalhe através dele.
Flow não é uma técnica. Não é um estado especial. É simplesmente o que sobra quando paramos de lutar contra a realidade.
A questão é: estamos prontos para deixar o controle para trás e nos entregarmos à única coisa que sempre existiu?
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