Vivemos em uma cultura que nos ensinou desde sempre a buscar sempre mais. Mais produtividade, mais conhecimento, mais experiências. O tempo todo adicionamos novas metas às nossas listas, como se o acúmulo fosse sinônimo de realização. Mas e se estivermos seguindo na direção errada?
Bruce Lee dizia:
"Não é um incremento diário, mas uma redução diária, eliminar o que não é essencial. Quanto mais próximo da Fonte, menor será o desperdício."
E se, em vez de acumular, a chave estiver em reduzir?
Na prática, essa ideia pode soar contraintuitiva. Afinal, o mundo exige velocidade, respostas rápidas, múltiplas tarefas ao mesmo tempo. Mas é justamente essa lógica do excesso que nos esgota. A fadiga mental, a ansiedade, o estresse e, em casos mais extremos, o burnout, não surgem apenas do trabalho intenso, mas da sobrecarga desnecessária – de preocupações, expectativas irreais e distrações.
Nosso dia começa e, antes mesmo do café, já estamos conectados ao celular, absorvendo novas demandas. A mente pulando de tarefas em tarefa, compromissos, prazos, redes sociais. Tudo parece urgente. Mas será mesmo? Quantas dessas preocupações são realmente indispensáveis? Quantas são apenas ruído?
Meus mentorados, alunos, clientes e amigos sabem que tudo que escrevo ou gravo em vídeos, é consequência do que testo antes em mim mesmo e há muitos anos, um dos meus principais aprendizados foi de que o flow segue o foco, não há fluidez sem foco, sem intenção.
Reduzir é um ato de foco. Quando me permito eliminar o que não agrega, algo curioso acontece: minha mente se torna mais clara. O presente se impõe de forma natural. Assim como um escultor que remove o excesso de pedra para revelar a obra, quando tiro o que é supérfluo, o essencial se manifesta.
E é no presente que tudo acontece. Quando estou inteiro no agora, minha exaustão mental diminui. A ansiedade – que me arrasta para o futuro – perde força. O arrependimento – que me prende ao passado – se dissolve. A atenção plena não é um conceito abstrato, mas uma prática que pode estar em qualquer momento: na forma como respiro, no modo como ouço alguém, na escolha consciente de fazer uma coisa de cada vez.
Essa presença me leva a perceber algo ainda maior: muitas das barreiras que crio entre mim e o mundo não são reais. A separação entre trabalho e lazer, entre mente e corpo, entre "eu" e "outros" muitas vezes só existe porque insistia em acreditar nela. O estresse crônico, por exemplo, surge dessa desconexão – da minha tentativa de dividir a vida em partes isoladas, quando, na verdade, tudo é parte da mesma Consciência.
Quando entendo isso, a fluidez acontece. O estado de flow não é um privilégio de atletas de alto desempenho ou de artistas imersos em sua arte. É um estado natural, acessível a mim quando consigo reduzir as distrações e me entregar completamente ao que estou fazendo. É o momento em que minha mente para de resistir e simplesmente flui. Como um cozinheiro que se perde no ritmo da faca cortando os ingredientes, um escritor que se deixa levar pelas palavras, um profissional que sente o tempo passar sem esforço porque está genuinamente envolvido.
E o que nos impede de viver mais nesse estado? O excesso. O medo de soltar o que não é essencial. A necessidade de se provar, de estar à altura, de corresponder, de estar em todos os lugares ao mesmo tempo e não perder nada do que está acontecendo. Mas, no fim, reduzir não é perder. É ganhar clareza.
Buscar saúde mental não é apenas uma questão de descanso. Não basta tirar férias se a mente continua presa ao computador na mesa do escritório ou as pendências que não foram eliminadas. O verdadeiro equilíbrio vem da simplificação. Quando parei de lutar contra o tempo, quando deixei de lado o que não importa, o que não agrega, quando entendi que não precisava segurar tudo, minha vida ficou mais leve - e plena.
Bruce Lee falava sobre diminuir, reduzir, se aproximar da Fonte. Talvez essa Fonte seja justamente a liberdade de estar presente, de viver com menos peso, de permitir que a vida flua sem desperdício lidando com as situações boas ou desafiadoras, da mesma forma, aceitando o que vem, o que se apresenta, seja bom ou ruim, da mesma forma leve, sem resistência, percebendo que pouco ou nada influímos nos desfechos e resultados, nada controlamos, somos vividos pela vida e não o contrário.