O Peso da Irrelevância
Quando os pensamentos perdem a importância, a verdade se revela em silêncio
Faça de conta que todos os seus pensamentos são irrelevantes.
Sem importância alguma. Apenas ruídos ao fundo, como o som de uma conversa distante num café onde você não conhece ninguém. Eles vêm e vão. Falam sobre tudo e nada. Mas não dizem nada sobre quem você realmente é.
Experimente isso por cinco minutos.
Cinco minutos apenas de desimportância radical dos pensamentos.
Veja o que acontece.
A mente — esse personagem ansioso por controle e sentido — se agita. Ela não aceita ser ignorada.
Está habituada a ser levada a sério, como uma criança mimada que precisa de atenção constante.
Ela antecipa o futuro, revira o passado, analisa cada gesto, julga cada emoção, calcula possibilidades — tudo baseado na crença de que ela é você.
Mas não é.
Isso não é um jogo. Nem uma brincadeira.
Se você realmente fizer, por cinco minutos que seja, vai descobrir o que pode acontecer:NADA
Esse experimento, simples em aparência, expõe uma fresta, uma rachadura naquilo que tomamos como verdade.
Não é uma brincadeira, embora possa parecer.
Se feito com honestidade, mesmo por um breve intervalo, revela algo desconcertante: nada acontece.
E é exatamente nesse paradoxo que mora o que há de mais revelador.
Uma metáfora pode ajudar: Estamos no cinema e as luzes se apagam antes do filme começar.
Tudo o que antes parecia central — os pensamentos, os diálogos internos, os enredos — desaparece por um instante e gera a real possibilidade de algo se revelar nos bastidores: a presença silenciosa de quem observa tudo isso.
Essa presença, essa Consciência, não depende dos pensamentos para existir.
Na verdade, ela só se torna visível quando os pensamentos se aquietam, criam um espaço entre eles ou, ao menos, perdem seu lugar de destaque na nossa cabeça.
Pensamentos são como nuvens: parecem densos à distância, mas ao tentar tocá-las, não há nada ali. São sombras projetadas na parede da caverna de Platão — dançam e assustam, mas não têm substância.
A ideia que venho tentando disseminar em meus textos é que procurar o pensamento é perseguir o vento com as mãos. E claro, procurar o pensador é como buscar o reflexo no espelho sem perceber que o espelho é você.
Nesse ponto, a mente entra em colapso. Ela perde suas referências.
Se não há pensamentos sólidos, se não há um "eu" fixo por trás deles, então quem está aqui?
Quem vê? Quem sente? Quem é?
As respostas, quando surgem, não são elaboradas. Não vêm em forma de frases, ideias ou explicações.
É a mesma coisa que tentar explicar o calor do sol no rosto: você reconhece, mas não precisa de mais nada.
Você sabe — sem pensar.
O ego é apenas um personagem, uma construção mental, é a água para o peixe: está por toda parte, mas ele só percebe quando salta fora d’água.
Esse salto acontece no instante em que você para de levar seus pensamentos tão a sério.
Imagine que você está num vagão de trem olhando pela janela.
Os pensamentos são as paisagens passando. Belas, feias, monótonas, agitadas.
Mas você não é a paisagem. Paisagens mudam com a velocidade do trem. Você é aquele que observa. Sempre esteve ali, no banco da Consciência, sem se mover.
Perceber isso muda tudo — não porque algo novo é adicionado, mas porque algo ilusório deixa de ser sustentado.
Esse “passo atrás” — que na verdade é um mergulho para dentro — coloca você num lugar “impossível”, sem localização:
É um ponto de vista silencioso, que vê tudo, sente tudo, mas não reage compulsivamente a nada.
Um centro que não julga, não compara, não resiste.
Quando os pensamentos perdem a importância, existe alguma coisa maior que ocupa o espaço.
Aquilo que você É, sem nome, sem forma, sem história, sem passado, sem futuro, começa a brilhar com uma luz que revela.
É só um vislumbre, um relance, mas que, uma vez percebido, ou melhor ainda, reconhecido, jamais será esquecido.
Se o tempo é relativo — como já sabemos que é — então esse instante de percepção pode durar uma vida inteira.
Ou até a eternidade.
A maior ilusão que carregamos — e talvez a mais resistente — é essa crença silenciosa de que porque penso, então sou.
Mas pensamentos não dizem quem somos. Eles apenas acontecem.
Como o vento que sopra ou uma nuvem que passa — surgem na consciência e se vão, sem jamais tocar aquilo que somos de fato.
A identificação com eles, com aquela voz interna que narra, julga e compara, dá forma ao personagem que chamamos de “eu”.
Mas esse “eu” é frágil, inquieto, e precisa de reafirmação constante.
O ego, afinal, é só um reflexo tentando se convencer de que é a luz.
A verdade é outra.
Você não é seus pensamentos.
Não é sua história.
Não é sua mente.
Nem seu corpo.
Você é aquilo que vê tudo isso acontecer — em silêncio, sem esforço, sem forma.
Aquilo que está antes de qualquer ideia de si.
Esse reconhecimento não é intelectual, é uma lembrança viva, íntima, visceral.
Uma descoberta que, quando acontece, desmonta todo o jogo da mente — e abre espaço para uma liberdade que não depende de nada.
A pergunta, então, não é “quem sou eu?”, mas…
O que sou eu, antes de qualquer pensamento?
Seja corajoso o suficiente para escutar a resposta no silêncio.
"É, bem, você sabe, isso é apenas, tipo, sua opinião, cara."
- O Grande Lebowski