Antes de qualquer tarefa que exige foco, há uma pergunta que costumo fazer a mim mesmo: qual é a atitude? Parece simples, quase ingênuo, mas é justamente essa simplicidade que desarma o esforço desnecessário e abre espaço para algo muito mais profundo do que concentração ou disciplina.
A maioria de nós aprendeu desde cedo que foco exige força. Lembro das professoras pedindo silêncio na sala de aula, como se a concentração fosse algo que pudesse ser imposto de fora para dentro. O resultado, como sabemos, nunca foi exatamente inspirador. O forçar não resolve. O que sustenta o foco não é a tensão, mas o contrário: relaxar. Não relaxar no sentido de se desligar ou dispersar, mas soltar a contração que nasce da ideia de que preciso controlar o instante.
Essa atitude de relaxamento não é uma técnica, é mais um não fazer. O que estou chamando de atitude não é o “querer ficar concentrado” e sim a disposição de deixar que o que precisa vir, venha. É algo físico até, como uma mudança imediata no corpo: a respiração desce, os ombros caem, e de repente já não há tanto atrito entre mim e a tarefa. É quase como sair da frente de mim mesmo. Minha prática na escrita funciona exatamente assim.
Vivemos tempos de estímulos incessantes, telas piscando, notificações disputando atenção e, pior ainda, os ruídos internos: memórias que não param de se repetir, ansiedades sobre o que pode acontecer. Nessa confusão, a capacidade de sustentar foco por alguns minutos parece luxo. E, para muitos, é mesmo, porque tentam criar concentração como se criassem um músculo, pela força, pela disciplina, pelo autocontrole. Só que não percebem que, quanto mais tentam segurar, mais escorrega.
A pergunta “qual é a atitude?” funciona como um corte nesse padrão. Não é mental, não pede análise. É quase instintiva. Quando faço essa pergunta, alguma coisa já se realinha, como se o corpo soubesse a resposta antes da mente.
A concentração não nasce de imagens idealizadas, como a postura do meditador perfeito ou o estudante exemplar. Ela surge quando eu solto essas representações e deixo que o momento se revele sem maquiagem.
É nesse ponto que aparece a conexão com o estado de flow. Todo mundo fala de flow como desempenho extraordinário, mas se esquece que a base dele é o foco. E foco não é algo que se produz à força, é consequência natural de uma atitude interna que solta o controle. Quanto mais penso que estou em flow, menos estou. Quanto mais tento alcançar, mais me afasto.
Flow acontece quando não há ninguém tentando.
De forma prática, esse relaxamento pode ser experimentado em coisas simples. Antes de escrever um e-mail importante, antes de uma reunião, antes de abrir um livro, basta pausar por alguns segundos e perguntar: qual é a atitude? Ao invés de empurrar a mente para um estado fabricado, deixo que ela se acomode sozinha, como água que repousa quando não a agito. O efeito é imediato, quase ridículo de tão óbvio.
E aqui o ponto central: não se trata apenas de foco ou de flow, mas de perceber que aquilo que chamo de “minha concentração” não é produzido por um eu controlador. É expressão natural de algo que já está sempre presente, mas que a pressa e a contração escondem. Quando paro de perseguir estados, quando não alimento imagens do que deveria ser, vejo que não sou quem controla. Sou o espaço silencioso onde tudo se concentra por si só.
Qual é a atitude? Essa pergunta simples não serve só para começar uma tarefa. Ela abre uma fresta para enxergar que não há nada a conquistar, apenas deixar fluir, sem ficar atrapalhando.
"É, bem, você sabe, isso é apenas, tipo, sua opinião, cara."
- O Grande Lebowski
Gracias amigo. Tienes fecha para la edición electrónica del libro? Un fuerte abrazo desde el sur.