Quando o talento não basta
Lando Norris não está pronto. A vitória em Mônaco iludiu. O erro no Canadá revelou o que ele ainda não quer ver.
Sou fã de Fórmula 1. Quando o que acontece ali toca temas como autoconhecimento, flow e inteligência emocional, algo em mim acende. Não são os carros, são as pessoas no limite. A mente sai do caminho e o corpo faz o que precisa ser feito.
Depois da vitória em Mônaco, achei que Lando Norris tinha virado a chave. Não apenas venceu, ele dominou a classificação, que em Mônaco é mais importante que o domingo. Ali, tudo indicava um Lando mais consciente, mais centrado, mais leve. Um Lando pronto.
Mas eu estava errado.
O que ele fez no Canadá desmonta a fantasia de maturidade que durou algumas semanas. Tentou uma ultrapassagem inexistente, na reta principal, com o próprio companheiro de equipe na frente. Foi afobado, infantil, inconsequente. Um erro grosseiro que só não custou a corrida de ambos por sorte. E que escancarou algo que talvez nem ele queira ver: não é a pressão externa que o destrói, é a interna.
Lando não brigava por vitória, nem por pódio. Era a quarta posição. E ainda assim, se lançou como se a temporada dependesse daquilo. Não foi coragem. Foi desespero.
O mais incômodo é que a gente já viu esse filme antes. Companheiros de equipe sempre foram os rivais mais cruéis da F1. Senna e Prost se destruíam emocionalmente enquanto empilhavam títulos. Hamilton e Rosberg, amigos de infância, viraram inimigos num carro vencedor. Vettel e Webber, Leclerc e Sainz, todos eles tiveram que lutar contra o outro e contra si mesmos. Porque nesse esporte, talento não basta. É preciso aguentar ser visto e criticado ou elogiado. É preciso não fraquejar quando a liderança finalmente chega.
Lando ainda não aguenta.
E não é uma questão técnica. Ele é rápido, inteligente, arrojado. Mas o que vimos no Canadá foi um piloto que acha que ainda precisa provar. E quem precisa provar, já está em desvantagem. Porque a mente entra antes da curva, e se ela não está limpa, o erro vem.
Ele pode não admitir agora, mas a verdade é que esse erro foi só a ponta de algo mais profundo. E se não encarar isso radicalmente, a tendência é mergulhar numa espiral descendente, um lugar sombrio de autocobrança e ansiedade. Já aconteceu com outros. Massa nunca se recuperou do “quase” de 2008. Gasly, Ricciardo, Perez, afundaram sob o peso da Red Bull. Leclerc alterna genialidade com auto sabotagem sempre que a pressão aumenta. Ser bom não basta. Tem que saber segurar a própria sombra.
Sinto infelizmente, que Lando Norris ainda não está pronto para ser campeão. E se não tiver ajuda, vai entrar num buraco do qual poucos conseguem sair rápido, porque a pista não perdoa quem tenta usar a vitória para se validar.
A vitória, quando vem, é só consequência de algo que já foi conquistado por dentro. E, por enquanto, esse lugar dentro dele segue vazio.