Antonio Cicero na ArtRio de 2017 — Foto: Bárbara Lopes
Hoje, convido você a explorar um tema complexo e sensível: a diferença entre eutanásia e suicídio assistido, além da visão filosófica que defende o direito de escolher a própria morte. Este assunto ganha destaque após a recente decisão do filósofo e poeta Antônio Cícero, que optou pelo suicídio assistido, trazendo à tona reflexões profundas sobre autonomia e dignidade.
Para iniciar, é essencial compreender o que cada termo significa. A eutanásia refere-se ao ato de causar a morte de uma pessoa que sofre de uma doença incurável ou em estado terminal, geralmente realizado por um médico. Este procedimento pode ser voluntário, com o consentimento do paciente, ou involuntário, sem um consentimento explícito.
Por outro lado, o suicídio assistido ocorre quando um médico fornece os meios necessários, como medicamentos, para que a própria pessoa acabe com sua vida. Neste caso, o ato final é realizado pelo próprio indivíduo, e a responsabilidade recai inteiramente sobre ele.
A Perspectiva Filosófica: Autonomia e o Direito de Escolher
Autonomia e Liberdade Pessoal
A autonomia individual é um princípio central em muitas correntes filosóficas. Filósofos argumentam que cada ser humano deve ter o direito de tomar decisões sobre seu corpo e vida, incluindo quando e como deseja morrer. Esta liberdade de escolha é vista como um elemento fundamental da dignidade humana, permitindo que os indivíduos vivam e morram de acordo com suas convicções e valores pessoai
Sofrimento e Dignidade
O alívio do sofrimento é uma das principais razões para considerar a eutanásia e o suicídio assistido. Para muitos, viver em dor intensa e sem esperança de cura é uma forma de indignidade. Permitir que as pessoas escolham a morte pode ser uma maneira de respeitar sua dignidade e oferecer alívio ao sofrimento insuportável. Este argumento é especialmente relevante em casos onde o tratamento médico não proporciona mais qualidade de vida.
Responsabilidade Pessoal
Do ponto de vista filosófico, a responsabilidade pessoal é um aspecto crucial. A capacidade de avaliar a própria condição e as consequências das escolhas é fundamental para que uma decisão sobre a vida e a morte seja considerada ética. Isso implica reconhecer que cada indivíduo possui o direito e a responsabilidade de decidir sobre seu próprio destino, desde que esteja em condições de fazê-lo de maneira consciente e informada.
Questões Sociais e Culturais
A aceitação da eutanásia e do suicídio assistido varia amplamente de acordo com normas culturais e religiosas. Em algumas culturas, a morte é vista como um tabu, enquanto em outras, é considerada uma parte natural da vida. Uma abordagem filosófica crítica pode questionar as normas sociais e culturais vigentes, promovendo uma discussão mais aberta sobre o que significa viver com dignidade e como isso se relaciona com o fim da vida.
Implicações Legais e Éticas
A legalização da eutanásia e do suicídio assistido levanta questões éticas complexas, incluindo a necessidade de estabelecer padrões que garantam que esses atos sejam realizados de forma segura, com consentimento informado e sem coerção. As implicações legais são vastas e exigem uma consideração cuidadosa para assegurar que os direitos dos indivíduos sejam respeitados, enquanto se protegem os vulneráveis de abusos.
Valorizando a Vida e a Morte
O debate sobre eutanásia e suicídio assistido é intrinsecamente complexo, envolvendo ética, moralidade, direitos individuais e a própria natureza do sofrimento. A visão filosófica que defende o direito de escolher a própria morte enfatiza a importância da autonomia, dignidade e responsabilidade pessoal. Em algumas jurisdições, como Suíça, Holanda e certos estados dos EUA, essa escolha já é respeitada e legalizada.
No Brasil, a ortotanásia permite que pacientes terminais enfrentem uma morte natural sem suporte de vida artificial. Embora essas questões sejam difíceis de enfrentar devido ao tabu em torno da morte, reconhecer a morte como aliada da vida pode nos ajudar a valorizar mais o presente, que de fato, é a única realidade.
Isso reforça a importância de gestos e palavras que muitas vezes deixamos de lado, para um amigo distante ou alguém da nossa família.
“Hoje é um bom dia para morrer”
Assim, os nativos norte americanos começam seu dia, para que honrem cada momento.
Então, que nós possamos fazer cada momento o mais pleno e positivo possível.
Pode ser o último.
Pensar assim é, longe de ser mórbido e negativo, uma forma íntegra de se viver.
Que o flow esteja com você.
Até sempre.